segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Estado de Sítio, The Wall e o Efeito Hitler


"Pink isn't well, he stayed back to the hotel"


I'm back! Yeah!
Mas não comemorem, pois não é nenhuma garantia de retorno periódico. Muito pelo contrário. Apenas uma vontadezinha pilantra que me bateu de escrever mais bobagens. E lá vou eu...

Há umas semanas atrás, resolvi degustar um livrinho, pois já estava me fazendo falta, e ter só que ler livros jurídicos, e necessitava de uma boa literatura para me embriagar. Sem livros novos que me apetecessem, parti para ler o Estado de Sítio, de Albert Camus, que é parte integrante de um volume antigo que eu tinha, onde a primeira parte era esta peça de teatro e na segunda, o incrível O Estrangeiro, que eu gostaria muito de aqui comentar futuramente (sonho meu... ♪). Há três anos atrás, ou mais, quando comprei este volume, só li O Estrangeiro, e deixei aquela peça de teatro pra lá. Confesso que tinha certo receio de ler peças de teatro, com aquelas coisas de "coro", "ato 1" e sei lá mais o que. Pois bem, mas este ano eu a li, e digo que minha primeira peça teatral (sim, eu nunca li Shakespeare, me apedrejem!) me surpreendeu muito. O laureado autor angelino é de um estilo próprio que me pegou desde O Estrangeiro e que veio se confirmar com Estado de Sítio. Merece o Nobel que tem!

A trama se passa na Espanha, numa cidadezinha normal e pacata (Cadiz) que recebe uma peste. Uma terrível que ataca a cidade como um todo e aniquila muitos cidadãos. Em tom tipicamente teatral, a Peste é personificada, e se assemelha a uma figura ditatorial, tomando o controle da cidade e implantando a "ordem". No mais, a história se desenvolve e eu não contarei aqui para não estragar a possível leitura de vocês, que vale muito a pena.

O que eu vim aqui fazer, é algo que me transitou pelos miolos enquanto lia este livrinho, que foi inicialmente a semelhança de temática e de enredo com The Wall, disco e também filme, escrito pelo deus Roger Waters, líder da banda inglesa Pink Floyd. Quem acompanha o blog e/ou me conhece, sabe da minha admiração e até fanatismo por esta banda e este senhor, e portanto a comparação, ou melhor, a aproximação de ambos foi um tanto inevitável. Para os que também não sabem, The Wall, a obra conceitual do "Senhor Águas" fala metaforicamente de um muro, que seria erguido pelo personagem central, Pink, que após frustrações (que seriam os tijolos) como a perda do pai na Segunda Guerra, professores carrascos, mãe super-protetora e até uma traição conjugal, se isola atrás deste muro e acaba por enlouquecer e se transforma, dentro de sua mente doentia, num ditador fascista que comanda o exército de martelos, que caça e massacra os vermes. Bem, bem, bem... há muito mais no disco e filme do que isso, o ideal é você ir escutar e/ou ver o filme, afinal é uma obra-prima do rock!

"Ok, Nick, você associou o livro a The Wall, mas e daí?" 

E aí que me veio outra constatação interessante: o quanto Hitler aterrorizou o mundo! Tanto a Peste, como Pink (o carinha da foto acima) são figuras tipicamente baseadas no Führer e no nazi-fascismo. Há, desde o fim da segunda grande guerra, o temor, o medo. Passamos todo restante do século XX enxergando naquele senhor de cabelo lambido e bigodinho, a figura do próprio Diabo, e tudo que pudesse se assemelhar aquilo, devia ser combatido, repelido e temido. Desde então, o mundo passou a se preocupar com o interferência estatal, as garantias individuais e a tal "regra absoluta" de democracia. Muito se desvirtuou desde então, e todos nós sabemos o número de tiranias pós-45 que tivemos e ainda temos pelo mundo, sejam de direita, esquerda ou centro. E como isso se reflete nas artes é interessante. Em algumas passagens do livro, me lembrei daquele filme Brazil, onde uma sociedade futurista se afunda de tanta burocracia estatal a fim de impedir o fim do controle, e também de a Revolução dos Bichos de Orwell, também sonorizado por Waters, de Admirável Mundo Novo, de Huxler, Laranja Mecânica, de Anthony Burgess e outros mais como 1984, também de George Orwell, por exemplo.
O medo de uma nova eclosão diabólica tirana mundial era constante e só foi diminuir mais recentemente, se é que esse medo realmente sumiu. Bin Laden foi uma boa invenção de novo vilão universal.

Percebo que a ideia de ter se livrado do pior não era suficiente, e que o mundo acreditava - e me parecia querer muito crer nisso - que o pior ainda estava por vir, que a verdadeira Peste se aproximava num futuro não muito distante. O pior, desses autores e artistas, não veio da forma como imaginaram, afinal, o absurdo faz parte da arte, mas, não podemos negar que nunca o Big Brother esteve tão poderoso. E com certeza ele está nos vigiando! 


Dê adeus ao céu azul!